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Reportagem 

 

Humor tem limite? 

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   Depois de uma piada com Wanessa Camargo e sua gravidez em setembro, Rafinha Bastos recebeu cartão vermelho da direção da Band e está suspenso da apresentação do programa "CQC". Outro repórter do programa já se complicou com piadas. Ao comparar o metrô com trem que carregava judeus para Auschwitz para fazer piada com um bairro de grande população judaica, Danilo Gentili teve a estreia de seu programa adiada. 

 

   Exemplos como estes causam repercussão na mídia e trazem de volta a pergunta: existem limites para o humor? 

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Agressividade

   Para o chargista da Folha de S.Paulo, Allan Sieber, o humor precisa ter algo agressivo. “Tem que ter um mínimo de porrada, de agressividade”, já que é um espaço que permite ao autor falar de assuntos espinhosos, “tipo racismo e religião, de uma maneira direta e ao mesmo tempo em que permite uma liberdade de você expor outro ponto de vista nessas questões.” 

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   Ex-redator do “Casseta & Planeta” e criador do site “Sensacionalista”, Nelito Fernandes admite que está difícil trabalhar com o humor. “A sociedade brasileira encaretou muito, então alguns tipos de piada não estão sendo muito aceitos.” 

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Se você vai entrar no picadeiro para provocar polêmica, você não está fazendo humor” - Nelito Fernandes, site "Sensacionalista"

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   Mesmo assim, o carioca não acredita que o humorista deve procurar apenas polêmicas. “Quando você assume um papel de palhaço, que no fundo é o que a gente faz, você entra no picadeiro para fazer rir. Se você vai entrar no picadeiro para provocar polêmica você não está fazendo humor. É um polemista, que é outra coisa.” 

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Politicamente Correto

   O “Politicamente Correto” costuma ser atacado pelos humoristas quando eles sofrem processos judiciais e se dizem perseguidos pela opinião pública.

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   No discurso, não se deve fazer piadas racistas, machistas, de humor negro, que humilhem uma pessoa, reforcem preconceitos existentes ou incentivem um comportamento de ódio e segregação. 

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  O membro do grupo “Casseta & Planeta”, Hélio de la Peña, ressalta que o discurso de politicamente correto surgiu em um momento em que grupos sociais buscavam representatividade (anos 80 e 90).

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   Para ele, não gostar de uma piada é um direito. Mas não se deve exagerar. “Da mesma maneira que eu tenho direito de fazer uma piada sobre o que eu quiser, o cara tem o direito de ter a opinião dele sobre aquela piada. Enquanto está neste trâmite, acho natural estar nesse embate. Agora você querer proibir as pessoas de se manifestarem... aí a coisa fica estranha.” 

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Duas bobagens”

   Chargista do "Observatório da Imprensa", Spacca lamenta tanto a defesa do discurso do politicamente correto quanto do politicamente incorreto: “Na verdade são duas bobagens, são duas coisas despropositadas”. 

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O politicamente correto cria padrões automáticos de respostas” – Spacca, chargista

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   Na sua avaliação, quando o humorista bombardeia o moralismo, corre o risco de ser superficial. “Esse tipo de contra-ataque é burro. Você diz pro público ‘olha aqui, nós temos dois lados: este se preocupa com os direitos das pessoas oprimidas e esse aqui não tá dando a mínima, qual você acha melhor?’. E a questão não é essa”.

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   Para Spacca, quando o humorista age dessa maneira, deixa de criticar o que é mais prejudicial. “Uma das características do politicamente correto é criar padrões automáticos de resposta; a pessoa não pensa ou julga, ela aprende a agir conforme é permitido pela moral dominante”.  

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   Para o cartunista Fernando Vasqs, tudo que é extremo é ruim. Para ele, equilibrar as coisas é um dos truques do humor. “A grande arte do humor é você descobrir um meio termo, de modo que você não seja tão agressivo nem ser tão ingênuo.”

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TEXTO - OPINIÃO E CRÔNICA

   Não vi Senna “ao vivo”. Tinha quatro anos quando ele morreu e só me lembro vagamente “daquele cara que ganhava todas”. Comecei a me interessar por Fórmula 1 em 1997. Assistia às corridas, via reportagens, lia revistas e conheci o tal piloto que seria o melhor de todos os tempos. Não entendi bem por quê.

 

   Será que era só nacionalismo? Exagero? Senna foi  tricampeão. Piquet também. Fangio penta. Senna venceu 41 corridas... mas Prost venceu 51, Schumacher então chegou perto das cem conquistas.

  

   Depois entendi que não eram só números. A Fórmula 1 sempre foi um esporte complicado, difícil de acompanhar e entender. Tem o estado dos pneus, a qualidade do motor, estratégia de reabastecimentos.

 

   Como ele fazia o brasileiro torcer como se fosse uma partida decisiva de futebol? Simples. Ele fazia a corrida ser emocionante. Ultrapassava. Não aliviava o pé. Ia até o limite. Se necessário ultrapassava esse limite. Além disso, criou uma sintonia muito grande com o povo brasileiro ao comemorar a vitória como se fosse um gol.

 

   Ayrton conquistou bons resultados na pequena equipe Toleman; venceu com a Lotus; se meteu entre pilotos consagrados e os deixou para trás. Fez o impossível com um carro de corrida. Venceu somente com a sexta marcha (Interlagos em 1991); foi apelidado de Rei de Mônaco pelos triunfos no principado e era imbatível sob chuva, tendo registrado aquela que ficou conhecida como a melhor primeira volta de todos os tempos (Donington Park em 1993).

 

   Também já tive uma fase de críticas a Senna. Achei que Piquet fosse superior. Só seria incompreendido. Achei que Schumacher, por ser um arrasa-recordes, fosse o melhor de todos. Soube da atitude às vezes arrogante de Ayrton com fãs e jornalistas. Criminalizei a batida proposital em Prost no Japão para garantir o título de 1990.

 

   Percebo agora que ele era humano, com defeitos e qualidades. O que ele fez fora das pistas foi notável. Criou o Instituto Ayrton Senna e mostrou que não estava aqui só para erguer troféus.


   Além disso, frases e declarações deixam bem claro como ele conquistou tantas vitórias. Nada de sorte ou azar. Ele mostrou que é necessário ter muita dedicação e muita concentração para vencer. No esporte ou fora dele.

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